Com a popularidade em queda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta o momento mais crítico na aprovação do atual mandato — e um dos piores das três vezes em que esteve à frente do Palácio do Planalto. Caso não consiga se recuperar até o fim de 2025, o petista pode ter pela primeira vez um saldo anual de aprovação negativo. O índice considera a diferença entre “aprova” e “desaprova” nas pesquisas realizadas ao longo de determinado ano e tira uma média. De 2003 a 2010, além da primeira metade da atual gestão, Lula sempre registrou saldo positivo.
Os piores desempenhos anuais do presidente até hoje foram no ano passado, com cinco pontos de saldo na média de todos os levantamentos da Quaest, e 2005, na esteira da crise do Mensalão, quando o cálculo nas pesquisas do antigo Ibope deu a Lula sete pontos a mais de aprovação do que de desaprovação. Já o ápice foi em 2010, ano em que elegeu sua sucessora Dilma Rousseff com saldo positivo de 74 pontos, patamar impensável no Brasil e no mundo polarizados da atualidade.
O desempenho do presidente produz variações, como sempre produziu, mas agora dentro de uma margem mais reduzida. O eleitorado era mais plástico. Hoje as opiniões são mais enrijecidas, há uma margem menor de plasticidade — diz o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, conselheiro da Associação Brasileira dos Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), que considera o índice de saldo de aprovação a melhor forma de acompanhar séries históricas de diferentes institutos.
Antes, aponta Lavareda, presidentes começavam os mandatos munidos da boa vontade daqueles que votaram em outros candidatos. Um exemplo internacional citado por ele é o de John Kennedy, nos Estados Unidos, que ganhou a eleição por diferença pequena do republicano Richard Nixon e, mesmo assim, começou o mandato com 72% de aprovação.
Os cenários mais polarizados produzem eleições vencidas por diferenças pequenas, como a de Lula sobre Bolsonaro em 2022, cujo placar no segundo turno foi de 50,9% a 49,1%. Mas aquela boa vontade de quem votou no nome derrotado passou a ser reduzida, o que propicia patamares menores de aprovação. A maior parte das disputas mundo afora nos últimos anos tem sido com sociedades divididas.
Sinais ruins
Nas pesquisas divulgadas este ano, os recados são ruins para Lula. A Quaest, por exemplo, registrou pela primeira vez um resultado mais negativo do que positivo para o petista desde o início do mandato: 49% desaprovam, 47% aprovam. No Datafolha — que não testa o cenário aprova contra desaprova —, Lula perdeu 11 pontos de “ótimo ou bom” em dois meses, entre dezembro e fevereiro. De 35%, a soma das duas respostas favoráveis passou para 24%.
Há cerca de um ano e meio, em agosto de 2023, o presidente tinha 60% de aprovação na Quaest, com diferença de 25 pontos para a desaprovação, de 35%. Foi o auge do Lula 3. No saldo médio daquele ano, Lula ficou com 17 pontos.
Tanto na política como entre analistas, a tese principal é de que essa piora se dá sobretudo pelo alto custo dos alimentos, algo que Lula tem abordado em discursos. Por essa razão que o tombo é mais forte em segmentos em que o petista consolidou como base, especialmente os mais pobres.
A expectativa no governo, corroborada pelo setor produtivo, é de um cenário mais favorável este ano, na esteira da previsão de safra recorde. Além da alta do dólar, que impacta nos preços, 2024 foi marcado por períodos de seca, por exemplo, o que prejudicou a produção e a oferta de produtos.
Houve ainda, em janeiro deste ano, a questão circunstancial da crise do Pix, que também baqueou o governo e o colocou nas cordas. Tanto o episódio envolvendo a modalidade de transferência financeira como o preço da comida são sintomáticos da força da oposição no duelo de narrativas, avalia o cientista político Josué Medeiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):
A queda na aprovação de Lula é uma mistura do conjuntural com o estrutural. Hoje há uma oposição de extrema direita que mobiliza as pessoas. As pessoas já estão incomodadas com a inflação, e além disso tem um ator político o tempo todo martelando esse tema na mesa de bar, na igreja, nas sociabilidades em geral.
O governo e a esquerda, opina Medeiros, penam para valorizar o que têm de bom no cardápio de números macroeconômicos.
O aumento de 9,3% na renda per capita domiciliar em 2024 é extraordinária, mas o ator que poderia se mobilizar em torno desse dado não se mobiliza. Só a extrema direita faz essa disputa. As pessoas só ouvem uma mensagem — afirma.
Além disso, existe entre aliados de Lula a leitura de que o preço da comida acaba corroendo a melhora na renda, já que passa a ideia de que o governo “dá com uma mão e tira com a outra”.
É com base nessa lógica que Lavareda usa o governo de José Sarney como exemplo. A hiperinflação que marcou aquele período eclipsou o crescimento do PIB acima de 4% na média, com direito a evolução superior a 7% nos dois primeiros anos. O que fica como memória é o poder de compra inviabilizado pela variação de preço.
O Globo
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Com eleitorado rachado e inflação dos alimentos, Lula inicia ano com raro saldo negativo de aprovação
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