Amapá é o estado com a polícia mais letal do Brasil: chacina de 7 jovens expõe crise humanitária
Por Martina Medina e Thalita Pires — Brasil de Fato
Chacina no Pantanal: violência policial no Amapá não é exceção, mas regra
No último domingo (4), sete jovens — incluindo um adolescente de 14 anos — foram executados em uma operação policial no bairro Pantanal, em Macapá. O caso, porém, reflete uma realidade ainda mais chocante: o Amapá é o estado com a maior taxa de mortes por policiais no país, proporcionalmente à população.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, em 2023 o estado registrou 23,6 mortes por 100 mil habitantes causadas por agentes de segurança — o índice mais alto do Brasil.
foto Jean Bambam : manifestação de familiares pedindo Justiça.
“Polícia do Amapá mata muito e quase não morre em supostos confrontos”, aponta estudo
O Anuário revela outro dado alarmante: o estado tem uma das menores taxas de policiais mortos em “confrontos” do país. Para especialistas, a disparidade indica práticas abusivas e execuções sumárias.
“Quando há muitas mortes causadas pela polícia e quase nenhum agente morto, isso levanta preocupações sobre a legalidade e a ética dessas ações”, denuncia o relatório.
A criminalização das vítimas é uma estratégia recorrente: após a chacina, a polícia afirmou que os jovens tinham “ligação com facções” — inclusive o adolescente de 14 anos.
“Mortos viram estatística”: violência policial no Amapá não gera comoção
A cientista social entrevistada pelo Brasil de Fato destaca o silêncio em torno desses casos:
“Não há protestos, campanhas por justiça ou repercussão duradoura. São vidas que viram números, e números que viram justificativa para mais violência.”
Familiares das vítimas criticam o discurso policial:
“Sempre dizem que houve ‘troca de tiros’, mas testemunhas falam em execução. E mesmo quando há antecedentes criminais, isso não justifica assassinato.”
Quem são os 7 jovens mortos no Pantanal?
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Max Dias Tolosa, 14 anos (estudante)
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Wendel Cristian Conceição, 22 anos (jogador de futebol e estudante de educação física)
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Wesley Jhonata Monteiro Ribeiro, 22 anos (jogador de futebol)
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Erick Marlon Pimentel Ferreira (apontado pela polícia como chefe do tráfico)
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Cleiton Ramon da Silva Ferreira, 22 anos (vigilante)
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Emanuel Braya Pimentel Ferreira (militar)
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Thiago Cardoso da Fonseca
Polícia insiste na narrativa de “guerra às drogas”
Em entrevista à Rede Amazônica, o delegado-geral do Amapá, Cezar Vieira, defendeu a operação:
“Todos os mortos estavam envolvidos com o crime organizado. Apreendemos armas e drogas.”
Para especialistas, porém, essa retórica alimenta um ciclo de violência e impunidade.
Dados mostram: Amapá vive emergência humanitária
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5x mais mortes por policiais que a média nacional
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1º lugar em letalidade policial desde 2019
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Quase zero policiais mortos em “confrontos”