Flor de Dandara: Prefeitura de Macapá lança projeto para reduzir mortalidade materna em mulheres negras

Nesta terça-feira (25), a Prefeitura de Macapá lançou o projeto ‘Flor de Dandara: reduzindo a mortalidade materna em mulheres negras’. A iniciativa é uma parceria entre o Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (IMPROIR) e a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), que busca reduzir em 50% a mortalidade materna entre mulheres negras até 2027. O projeto tem como base o programa Rede Alyne, uma estratégia do Governo Federal de reestruturação da antiga Rede Cegonha, que buscava reduzir em 25%.

A parceria entre o IMPROIR e a SEMSA pretende fortalecer o cuidado pré-natal e a garantia do acompanhamento integral das mulheres residentes nas comunidades quilombolas do Tessalônica, Mel da Pedreira, Maruanum, Ilha Redonda, Pacuí, Curiaú, Coração, São Pedro dos Bois e Torrão do Matapi, que na sexta-feira (21), recebeu a reforma e ampliação do Posto de Saúde.

A iniciativa surge como uma resposta urgente aos alarmantes índices de mortalidade materna entre mulheres negras, que são desproporcionalmente afetadas por complicações durante a gravidez, parto e pós-parto, sendo duas vezes maior que de mulheres brancas, como aponta a Pesquisa Nascer no Brasil II: Inquérito Nacional sobre Aborto, Parto e Nascimento, uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A Secretária da SEMSA, Erica Aymoré, relata que os números do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) apontam um aumento de quase 100% em relação ao número de óbitos em 2022, representando oito óbitos, sendo seis de mulheres negras. Em 2024, através da criação de um grupo de trabalho de mortalidade materna, foi possível que a pasta acompanhasse de perto os números, ocasionando a redução de 25%.

“Estamos finalizando o mês de março sem óbitos, mas para que essa mudança seja efetiva, a gente precisa que uma rede inteira, municipal, estadual e federal, circule sem interferência, protegendo essa mulher desde o pré-natal até a volta ao domicílio. Durante dois anos, foram 18 mulheres jovens com vida reprodutiva ativa, com possibilidade de sobrevida e com óbitos que poderiam ser evitados”, relata a secretária municipal de saúde.

 

 

Estruturado em cinco eixos, o ‘Flor de Dandara’ integra ações como pré-natal humanizado, suplementação nutricional e combate ao racismo estrutural e violência obstétrica, além de oferecer apoio psicológico para gestantes e puérperas. O projeto também inclui capacitação de profissionais em reanimação neonatal e saúde mental perinatal, promovendo ainda atividades físicas e oficinas de geração de renda para garantir autonomia às mulheres.

Com abordagem intersetorial e comunitária, a iniciativa pretende não apenas reduzir mortes evitáveis, mas também empoderar mulheres negras através de informação, acesso a direitos e fortalecimento de redes de apoio. As ações serão monitoradas por indicadores de saúde e equidade, alinhando-se às diretrizes nacionais de enfrentamento à mortalidade materna.

Diretora-presidente do IMPROIR há três meses, Cristina Almeida relata o principal objetivo do Instituto para o ano de 2025: uma política municipal de promoção da igualdade racial.

“Se nós não tratarmos o racismo, nós não vamos conseguir avançar em nenhuma das políticas públicas. Porque o racismo impede esse avanço. A gente viu aqui oito óbitos em 2023. Para Macapá é muito, são seis mulheres negras. O nosso trabalho aqui é tornar invisível aquilo que precisa ser visto por toda a sociedade. Ir na raiz do problema e resolvê-lo”, relata a diretora-presidente do IMPROIR.

 

 

As nove comunidades que serão assistidas durante a fase experimental do projeto possuem unidades municipais de saúde com atuação de equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), compostas por um profissional médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e um agente comunitário de saúde (ACS).

A representante da comunidade de São José do MatapiMaria das Dores, relata a felicidade com o lançamento do projeto e a importância dos agentes de saúde para o acesso pleno aos serviços disponibilizados nas unidades.

“Todas as ações que tem dentro da UBS, o agente entra em contato comigo para avisar e eu levo essas mulheres para receber os atendimentos. Todas as comunidades precisam dessa parceria. E hoje a minha gratidão é de poder representar e agradecer em nome de todas as comunidades quilombolas que vão se sentir abraçadas com esse projeto”, relata a representante comunitária.

 

Maria das Dores é moradora e representante da comunidade São José do Matapi | Foto: Jesiel Braga/PMM
Maria agradeceu em nome de todas as comunidades quilombolas | Foto: Jesiel Braga/PMM

 

Confira os eixos detalhados:

 

Saúde materna e pré-natal

Pré-natal qualificado e humanizado (Quarta Ouro – consulta prioritária para gestante e parceiro)

Suplementação essencial (Cálcio e Ácido Fólico/AS para gestantes)

Nutrição na gestação e puerpério

 

Combate às violências e direitos reprodutivos

Enfrentamento ao racismo estrutural e a violência obstétrica

Atendimento jurídico (orientação sobre direitos reprodutivos e proteção legal)

Planejamento reprodutivo (acesso a informações e métodos contraceptivos)

 

Apoio integral no pós-parto

Incentivo e apoio à amamentação (consultoria e grupos de apoio)

Fortalecimento da rede comunitária (vínculos entre gestantes, puérperas e profissionais)

 

Capacitação profissional e comunitária

Curso de reanimação neonatal (para equipes da Estratégia Saúde da Família – ESF)

Capacitação em saúde mental perinatal (para profissionais e comunidade)

 

Promoção de autonomia e bem-estar

Atividade física para gestantes e puérperas (alongamento, exercícios seguros)

Oficinas de autonomia econômica (geração de renda e empreendedorismo)

 

Confira mais fotos de Jesiel Braga/PMM:

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