A tradicional Festa de São Tiago, reúne algumas peculiaridades. Marcada pela mistura de celebrações religiosas e culturais, a honraria a São Tiago atrai para o município de Mazagão milhares de devotos, turistas e visitantes.
Além de São Tiago, principal homenageado, outro santo também ganha honrarias, com direito a círio com traslado da imagem. Trata-se de São Jorge, que foi incorporado aos festejos por também ser um santo cavaleiro e guerreiro. No dia 25 de julho, quando ocorreu a batalha entre mouros e cristãos, segundo a história, Jorge e Tiago lutam e vencem a guerra.
Segundo o professor e historiador, Célio Alício, a comemoração de dois santos no mesmo dia é algo inédito, e enriquece ainda mais a tradição mantida pela comunidade de Mazagão Velho.
“Mazagão é um caso único, não se vê em outra parte do mundo que se comemora na mesma festividade, dois santos. Embora a comemoração se chame ‘São Tiago da Espada’, e ele seja o protagonista nessa Guerra Santa, São Jorge tem um papel fundamental, embora coadjuvante”, explica Alício.
O historiador explica que a batalha em que os cristão acreditam ter vencido, contou com a participação de dois guerreiros que não faziam parte do exército, e que até então eram desconhecidos. “Esses eram São Tiago e São Jorge. Tanto que os moradores são devotos aos dois santos e as duas imagens são cultuadas durante a procissão”, conta.
As imagens também são cercadas de curiosidades que tornam a celebração ainda mais autêntica. Uma delas refere-se a São Jorge. Ao invés de matar um dragão, como normalmente é retratado, em Mazagão, ele está matando um soldado mouro, conforme a história.
De acordo com Neto Silva, um dos coordenadores da festividade, Mazagão é o único lugar do Brasil em que a imagem de São Jorge não mata um dragão. Ele diz que a escultura utilizada pela comunidade, chegou junto com os primeiros habitantes da vila.
“As imagens dos nossos santos vieram na bagagem dos navios, e simboliza também uma etapa da encenação que ocorre aqui na batalha, que é São Tiago e São Jorge matando os mouros. Nosso antigo pároco nos contava que não existia em nenhum outro lugar, uma imagem de São Jorge assim, o que reforça que elas foram feitas para homenagear os responsáveis pela vitória dos cristãos, mantendo desta forma o episódio da batalha crucial”, disse Neto.
Outra curiosidade é a própria imagem de São Tiago, que segundo a ministra da eucaristia, Eurinice Queiroz, mais conhecida como dona Eró, é uma das poucas no mundo em que o santo aparece montado em um cavalo.
“São Tiago era um apóstolo peregrino e a maioria das suas imagens tradicionalmente são dele em pé, descalço, com chapéu e manto. Poucas vezes ele surge como cavaleiro e passa a ser conhecido como Santiago, o ‘matamouros’”, conta dona Eró.
Trazida da África no século 18, a Festa de São Tiago remonta à fundação da Vila de Mazagão Velho pela Coroa Portuguesa, no ano de 1770. Na cidade, as batalhas entre mouros e cristãos começaram a ser encenadas em 1777, como forma de resgatar a memória do “Mazagão original”, uma colônia portuguesa no Marrocos desativada e transferida para o Amapá.