O governador do Amapá, Clécio Luís, entregou certificados de destaque cultural para 37 personalidades históricas de Mazagão Velho. A cerimônia aconteceu no domingo, 21, durante a exposição “Cultura, Fé e Ancestralidade na Festa de São Tiago”, promovida pela comunidade local, em parceria com a Banda Placa, e que segue até dia 28 de julho na sede do Grupo Raízes do Marabaixo.
A iniciativa foi idealizada pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Fundação Estadual de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Fundação Marabaixo) e Conselho Estadual de Cultura, para valorizar e preservar estas pessoas que se dedicam para manter viva as tradições culturais do município, que abriga uma história ancestral de fé e santidade.
“As nossas festeiras aqui são sacerdotes e transformaram esse fazer cultural em um ofício. Não é algo feito uma vez ou outra, mas sim que faz parte da vida desse povo ancestral, passado de geração em geração. Nós queremos cuidar da proteção do nosso patrimônio material e material, das nossas festas tradicionais, da cultura. Tratar de entender e difundir o que nós temos, para então apoiar os segmentos de todas as linguagens culturais de todas as cenas”, destacou o governador Clécio Luís.
A emissão dos certificados foi aprovada em plenária pelo Conselho Estadual de Cultura, que já emitiu mais de 300 documentos no último biênio. Para o presidente da instituição, Cirley Picanço, a medida busca ampliar cada vez mais o debate e fazer com que todos os fazedores de cultura dos Amapá possam ser reconhecidos, com um tratamento digno e recursos necessários para manter a vocação.
“Nosso certificado de destaque cultural ganhou proporções gigantescas a nível de estado. A gente nunca imaginava que tantos artistas queriam ser certificados com esse documento. Estar aqui em Mazagão Velho, que é o berço, onde tudo começa, e certificar todos esses fazedores e fazedores de cultura, esses mestres e mestras da cultura tradicional e popular, ainda em vida, para a gente é muito importante”, pontuou Picanço.
O momento cultural contou com apresentações artísticas dos cavaleiros de São Tiago, que replicaram, no rufar dos tambores, o som das caixas que davam a ordem de comando nas batalhas. Entre as melodias apresentadas, está o toque do translado, do aviso, da batalha e do meio dia, encerrando com um grande “vominê”, dança tradicional dos guerreiros.
Um dos artistas certificados foi Antônio José Pinto, de 52 anos. No currículo, com 30 anos em experiências culturais, ele carrega títulos como narrador da festa de São Tiago, cantor e compositor de marabaixo e de batuque, mestre em caixa e tambor.
“É muito importante a gente ter um governo que nos ampare culturalmente e ter esse reconhecimento como fazedor de cultura. Durante toda a minha trajetória, é a primeira vez que eu recebi um certificado. É um desafio fazer cultura no estado do Amapá, sabíamos quanto significa esse diploma entregue para cada um da gente”, contou José.
Carregando uma história centenária do pai e da mãe, que viveram em torno de 100 anos, a fazedora de cultura Joaquina Jacarandá se dedica a manter viva as celebrações santas, um pedido feito pelos genitores ainda em vida: “não deixe a festividade acabar”. Pelos trabalhos culturais, ela recebeu um certificado de destaque do Governo do Amapá.
“A gente tá dando continuidade e hoje em dia a gente já ensina para outras pessoas. Onde é que eu não puder mais, minhas filhas e meus netos assumem e ficam à frente das festas. Eu festejo assim, com muito orgulho, muita satisfação. Aqui é o berço da cultura dos nossos antepassados”, celebra Joaquina.
Ainda na ocasião, foram apresentados pelos fazedores de cultura, os ritos tradicionais de festividades sagradas do município, como a Folia Mãe de Deus da Piedade, São Gonçalo, Nossa Senhora da Luz e Divino Espírito Santo. Em uma diversidade de ritmos, foram usados instrumentos como tambor, chocalho e raspador, orquestrado pelo mestre-sala.
Cultura, Fé e Ancestralidade na Festa de São Tiago
A exposição fica aberta a visitação até o fim da festividade, no dia 28 de junho. No espaço, é possível encontrar a história de personalidades marcantes na história de Mazagão como Olga Jacarandá, José Jorge da Silva, o “Mestre Jorge”, e Benedito Nunes, o “Biló”.
Em um extenso trabalho de pesquisa, o músico Álvaro Gomes, um dos fundadores da Banda Placa, registrou em partituras as principais melodias das festividades religiosas. O acervo preserva o legado e contribui para a participação da nova geração nas celebrações.
