Por IAGO FONSECA Quatro famílias amapaenses se uniram em busca de justiça para entes mortos em acidentes envolvendo motoristas embriagados.A professora Letícia Veríssimo desabafou ao lembrar do pai, Antônio Gomes, morto aos 68 anos após ser arrastado por um motorista bêbado no Bairro Laguinho, na zona leste de Macapá, em 1° de fevereiro: “Qual é a próxima família amapaense que vai chorar? Será que compensa matar no trânsito?”.A família dela se uniu a outras três em busca de justiça pelos entes mortos por condutores embriagados, que seguem soltos após os crimes.O portal SelesNafes.com conversou com três das quatro famílias que ainda lutam pela honra e memória das vítimas. A professora Vania Santos, que perdeu o pai Agostinho Feitoza em 2021 por um motorista que invadiu uma lanchonete, foi quem uniu as famílias pela causa.“Nos unimos para fazer justiça, para que esses casos não caiam no esquecimento, pra que realmente eles sejam punidos, porque é o mínimo. Nossos pais foram arrancados brutalmente da família, esse é um trauma que a gente vai levar pra vida toda porque só sabe quem passa. É inadmissível você receber uma notícia de que teu pai foi atropelado e ultimamente eu vejo que está sendo banal”, declarou Vania.Famílias seguem enlutadas pela perda dos familiares para violência no trânsito. Fotos: Iago FonsecaEla afirma que deixou de trabalhar há três anos após desenvolver ansiedade e não conteve a emoção ao lembrar do pai.“O meu pai foi assassinado. Ele era meu porto seguro, era tudo. A nossa família acabou, Rogério acabou com a minha vida. Para mim não foi acidente e sim assassinato”, completou Vania.No grupo estão os familiares do seu Antônio Gomes, do cabeleireiro Eldo Duarte, morto em 2023 ao ser atingido por uma picape no Bairro Jardim Marco Zero, e também dos cozinheiros Mickel Pinheiro e Rosineide Aragão, mortos em 2021 após uma BMW atingir o veículo que estavam ao saírem do trabalho. “É uma sensação que a gente não deseja pra ninguém. Passar por isso foi muito difícil, uma coisa é ver um parente seu viajar e você ter noção que aquela pessoa vai voltar. Mas quando você chega no cemitério, e vê aquela terra sendo jogada no seu parente, aí cai a conclusão de que nunca mais vai ver ele, não teve uma chance de se despedir ao menos”, relatou Edielson, irmão de Eldo. Ele recordou, ainda que os pais sofrem e a família teve que fechar o empreendimento de Eldo.Famílias trocam apoio em busca de justiçaPriscila Silva, outra filha enlutada do seu Antônio, lembrou do acidente ocorrido no último domingo (17), quando Gabriel Vitorino, de 29 anos, morreu após ser esmagado por Vinicius da Silva dos Reis durante uma conversão imprudente. O motorista estava alcoolizado e foi preso, diferente dos casos do seu Antônio, Eldo e Agostinho.“Isso revirou a nossa família por culpa de uma pessoa irresponsável que bebeu e dirigiu. Então a gente precisa que o judiciário entenda que há dolo, sim, que houve intenção de matar, que matou um ser humano, que era importante para a gente. Essas pessoas representam risco para a sociedade”, reforçou Priscila.Letícia ponderou, também, que revive a dor sempre que sai uma notícia de acidente de trânsito.Edielson perdeu o irmão para violência no trânsito, o cabeleireiro EldoVânia montou um grupo para unir as famílias“Renova as nossas dores, volta às lembranças, essa família está vivendo o que a nossa família viveu, então toda vez que tem um caso de assassinato no trânsito, a gente acaba revivendo toda a dor”, reforçou Letícia.O grupo virtual criado por Vania para acolhimento e apoio das famílias enlutadas pelos crimes de trânsito, em especial os casos de direção sob álcool, está disponível para qualquer família que queria contribuir com a causa. Os interessados devem entrar em contato pelo número (WhatsApp da Vania) 96 98148-8360.